Durante anos vive assombrado pelo
fantasma da calvície. Não importava para qual de meus ascendentes eu olhasse,
ela estava lá. Mesmos os tios mais jovens já apresentavam os primeiros sinais
do que parecia ser um carma. E assim foi. Um após o outro todos caíram como que
numa fila de pedras de dominó. E por muito tempo pensei numa maneira de me
esquivar de tal destino. Mas ao observá-los percebi que todos se resignavam e
alguns até passavam a ostentar sua carequice de forma imponente. Compreendi que
tal comportamento se devia ao exemplo de nosso patriarca, meu avô. Seu caráter
e retesa de comportamento pareciam tê-lo livrado de qualquer vaidade mundana. E
por admirá-lo ao extremo e sempre querer seguir seus passos, também eu já tinha
me resignado. Havia decidido que quando minha hora chegasse, e minha cabeleira
me deixasse, aceitaria com bravura. Então semana passada tudo mudou. Como de
costume fui à casa de meus avós para ouvi-los contar histórias do passado, e em
meio a um dos causos meu avô me fez uma revelação inesperada. Disse-me que de
todas as alterações que o desgaste do tempo (já se vão 77 anos) e o trabalho
pesado havia causado em seu corpo, não eram as rugas, nem os males da chagas,
tão pouco a perda de parte da visão era o que mais o incomodava. De todas as
alterações a única que ele ainda lamenta é a perda de seus cabelos. Naquele
momento, como que num toque de mágica, ele retirou toda a culpa de meu peito.
Bem ali na minha frente, o careca mor da família revelava que também ele não queria
a carequice. Aprendi nesse dia que caráter e retesa de comportamento não são
avessos à vaidade. E eu já tomei minha decisão. Finasterida aí vou eu!!!!
Foto: Fernando Ducatti
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