quinta-feira, junho 04, 2009

Triste sina


Durante anos vive assombrado pelo fantasma da calvície. Não importava para qual de meus ascendentes eu olhasse, ela estava lá. Mesmos os tios mais jovens já apresentavam os primeiros sinais do que parecia ser um carma. E assim foi. Um após o outro todos caíram como que numa fila de pedras de dominó. E por muito tempo pensei numa maneira de me esquivar de tal destino. Mas ao observá-los percebi que todos se resignavam e alguns até passavam a ostentar sua carequice de forma imponente. Compreendi que tal comportamento se devia ao exemplo de nosso patriarca, meu avô. Seu caráter e retesa de comportamento pareciam tê-lo livrado de qualquer vaidade mundana. E por admirá-lo ao extremo e sempre querer seguir seus passos, também eu já tinha me resignado. Havia decidido que quando minha hora chegasse, e minha cabeleira me deixasse, aceitaria com bravura. Então semana passada tudo mudou. Como de costume fui à casa de meus avós para ouvi-los contar histórias do passado, e em meio a um dos causos meu avô me fez uma revelação inesperada. Disse-me que de todas as alterações que o desgaste do tempo (já se vão 77 anos) e o trabalho pesado havia causado em seu corpo, não eram as rugas, nem os males da chagas, tão pouco a perda de parte da visão era o que mais o incomodava. De todas as alterações a única que ele ainda lamenta é a perda de seus cabelos. Naquele momento, como que num toque de mágica, ele retirou toda a culpa de meu peito. Bem ali na minha frente, o careca mor da família revelava que também ele não queria a carequice. Aprendi nesse dia que caráter e retesa de comportamento não são avessos à vaidade. E eu já tomei minha decisão. Finasterida aí vou eu!!!!
Foto: Fernando Ducatti

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