domingo, março 14, 2010

Quando a cabeça não pensa...


Em Setembro de 2006, ao em vez de cumprir meu dever cívico e prestigiar nosso pomposo desfile militar, fui à fazenda de um dos tios de minha namorada. Curtir o feriado no campo. Lá chegando ficamos sabendo que ali por perto havia uma caverna e nela, vários desenhos rupestres. Como sou um aficionado pelas coisas do passado, logo me animei. Nessa brincadeira reunimos um grupo de cerca de vinte pessoas. E munidos de cordas e lanternas partimos rumo ao desconhecido no melhor estilo Indiana Jones. Mas logo que chegamos à caverna um impasse se formou. Minha namorada (que é veterinária de verdade) alertou a todos que a caverna estava repleta de morcegos e que era extremamente arriscado entrar ali, uma vez que morcegos são transmissores de várias doenças graves, entre elas raiva e histoplasmose. Mais que depressa tratei de persuadi-los. Afinal sempre quis participar de uma expedição como aquela. Além do mais, minha família é composta por machões. Representamos aquela masculinidade típica dos coronéis do cacau (e isso não é um elogio). Condicionados desde pequenos a suportar as dores físicas e simplesmente ignorar as psicológicas (o que vale lembrar: é mais fácil falar que fazer). Dar ouvido às mulheres? Completamente desnecessário. O verdadeiro macho sabe traçar o seu caminho e é suficientemente convincente para fazer sua mulher trilhá-lo ao seu lado (doce ilusão). E assim, invariavelmente, fui o primeiro a entrar e o último a sair da caverna. Na volta para casa ainda tive força e ousadia para colocar em xeque a masculinidade dos parentes de minha namorada. “Bando de maricas”. Mas eu teria a oportunidade de me arrepender. Passados exatos quatorze dias, quase todos caíram de cama. Febre alta, calafrios, dores pelo corpo. Dos cerca de vinte expedicionários dezoito ficaram doentes. Dois foram internados. Acho que nem preciso dizer quem ficou mais tempo no hospital, nem qual foi à frase que mais tive que ouvir. Como uma boca doce pode ser tão vingativa? Isso sem contar o quanto tive que ouvir dos colegas de faculdade e dos ex-professores que eu deveria saber o que estava fazendo, afinal era considerado por todos um dos melhores da classe. Sempre que me lembro dessa historia fico me perguntando: Se eu era um dos melhores da classe quantos dos piores ainda estão vivos? E o mais próximo de um desenho rupestre que vi ali foram algumas formações anômalas deixadas pelo excremento dos morcegos que descia pelas paredes antes de se acumular no chão.

3 comentários:

  1. Quando a cabeça não pensa...rereree
    Eu também embarquei nessa!!!
    Mas, valeu! Fomos manchete até em Minas Gerais, uai rererere

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  2. as vezes a cabeca naum pensa mesmo!

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